Se as águas de março fechando o verão são promessa de vida no coração do poeta, para os agricultores trouxeram grandes preocupações e ratificaram uma safra 2013/14 com uma série de eventos climáticos que fugiram à normalidade propagada antecipadamente pelos meteorologistas. O agricultor, sem dúvida, desempenha uma das atividades de maior risco, totalmente dependente do humor do clima, e corre o risco de ir do sucesso ao prejuízo apenas com uma mudança brusca, como estiagem, uma chuva de granizo, enxurradas, temporais, ventanias que afetam sua produtividade e, às vezes, põem em risco a própria viabilidade do cultivo. Nos últimos anos, houve um ligeiro avanço em relação ao seguro agrícola, que poderia dar alento a essas situações. Mas, o processo ainda está longe de atender todas as necessidades do setor e ainda piorou em relação aos anos anteriores.
Na safra atual não está sendo diferente, conforme apurou a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) em levantamento realizado nas últimas terça-feira e quarta-feira (18 e 19/3) junto às lideranças municipais e regionais. As chuvas torrenciais desta semana geraram enxurradas e alagamentos na Fronteira-Oeste, Depressão Central e na Zona Sul pela enchente nos rios e arroios, casos de granizo na Campanha e na Depressão Central, de acamamento no Litoral Norte e nas Planícies Costeira Interna e Externa à Lagoa dos Patos. O efeito é, além de prejuízos pontuais à produção e produtividade, que com 30% da safra colhida batia em média de 8 mil quilos por hectare, um atraso de sete a 10 dias na colheita, cuja velocidade já está abaixo da temporada passada. Além disso, a oscilação brusca de temperaturas vem afetando as lavouras mais tardias.
Nesta semana, as colheitadeiras não conseguem entrar nas lavouras pelo excesso de umidade. Somente em São Gabriel e Santa Margarida do Sul, o conjunto das entidades agropecuárias, com apoio do Instituto Rio Grandense do Arroz avalia que os temporais de granizo geraram perdas em 1,5 mil hectares de arroz e 40% da soja cultivada na várzea nestes territórios, o que soma 12 mil hectares e 800 mil sacas de 60kg que poderão deixar de serem colhidas. Em todas as regiões, os relatos são de safra igual à do ano passado ou levemente menor, mesmo com uma arrancada superior no início da safra.
Além disso, é geral a observação dos rizicultores gaúchos de que o arroz que começou a ser colhido nos últimos 20/25 dias apresenta muitos grãos “falhados ou chochos”, o que foi provocado pelo excesso de calor no final de dezembro e início de janeiro, quando sensação térmica de 45 a 48 graus foi comum no território gaúcho. Este fenômeno gerou o aborto de flores e a esterilização dos grãos. Algumas variedades apresentaram esta característica de maneira mais relevante.
O levantamento realizado pela Federarroz indica que até os 30% colhidos no Rio Grande do Sul, registrados na semana que passou, a produtividade média deve ficar mesmo em torno de 8 mil quilos por hectare, mas com o avanço da colheita este escore deverá recuar. “Não estamos aqui dizendo que a safra será maior ou menor, mas registrando que esta é uma safra em que os produtores tiveram muitas dificuldades, especialmente com relação ao clima. Já começou com atraso de plantio em algumas áreas e regiões por falta de umidade no solo e em outras por excesso de chuvas e os eventos climáticos negativos continuam até o final do ciclo”, reconhece o presidente da Federarroz, Henrique Osório Dornelles.
Segundo ele, estas dificuldades devem ser levadas em conta para melhorar o acesso e os mecanismos do seguro agrícola. Para Dornelles, a produção será boa, acima de 8 milhões de toneladas, mas longe do quadro divulgado inicialmente. “Quem corre os riscos desta missão que é produzir alimentos, está vendo uma safra diferente”, sentencia. O Irga, que previa inicialmente uma colheita de até 8,5 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul na temporada 2013/14, divulgou que a produção será inferior a 8,4 milhões de toneladas.