A situação e o futuro do conflito indígena é mesmo bem pior do que imaginávamos… e vai de mal a pior… Todos os dias, cumpro meu ritual matinal e leio ainda pela manhã, entre curioso e alarmado, as notícias indígenas enviadas pelo nosso amado Emanuel (deperatriz, no MA) e devo reconhecer que é muito decepcionante ler quase sempre as mesmas notícias: conflitos não-resolvidos, conflitos sendo gestados, índios em situação de pobreza, dependência e como consequência disso: índios invadindo, roubam, cobram pedágios, índios etc… e não são punidos por isto, nem retirados desta situação complicada… etc. Mas dificilmente nos damos conta de que as coisas vão pior do que imaginávamos…

Estas notícias ruins, quase sempre são provenientes de grupos envolvidos em conflitos de demarcações de terras indígenas. Grupos como os Guarani-Kawioá, Terena ou dos índios do Nordeste. Sempre acreditamos (boa parte do Brasil ainda acredita) que depois de terem suas terras demarcadas e regularizadas os indígenas terão melhores serviços de educação, saúde etc… como já tem. Enfim acreditávamos que a realidade e as oportunidades para as populações indígenas mudariam  para melhor. É triste acordar e para realidade e descobrir que não é bem assim e as coisas não melhoram e não mudam… ou demoram muito mais tempo para mudar. Este é o caso do grupo Xerente, aqui em questão.
Vivi 4 anos entre os Xerente, que já tem suas terras demarcadas há mais de 30 anos, e homologadas há mais 20. Durante todo esse tempo testemunhei o mesmo cenário se repetindo indefinidamente: índios querendo e fazendo tudo que pretendiam e a sociedade ao redor pagando um alto preço pela convivência com este grupo que não tem limites para o que querem e desejam.
Poderia passar horas alistando todos os projetos, programas, iniciativas e benefícios que o próprio grupo Xerente já recebeu, muitos dos quais eu mesmo redigi e elaborei de próprio punho, como fazem quase todos os antropólogos que trabalho juntos populações indígenas: servem como secretários, conselheiros e eternos marqueteiros dos grupos indígenas, sempre defendendo e justificando suas ações, sejam elas quais forem (fazem isto até o dia em que eles acordam e percebem a armadilha intelectual em que se colocaram). Mas para resumir, vou dizer apenas que recentemente (entre 2002 a 2009) todo grupo recebeu nada menos do que 10 milhões de RS em indenização pela construção e operação da Usina Hidrelétrica do Lajeado, (que por sinal, não alagou nenhum centímetro da TI. Xerente, que ficava à jusante da UHE, e não à montante.
O que se puder imaginar de Projetos e mais projetos em todas as áreas da vida humana (educação, saúde, agricultura, desenvolvimento, preservação cultural) foi pensado, planejado e executado entre o grupo. Todos os não-indígenas da região, que nunca receberam do governo nem 10% desta atenção pensavam que a vida dos Xerente, depois de tantos projetos seria bem melhor do que a deles próprios. Na verdade qualquer um que visse as contas, e os números dos milhares de R$ investidos no grupo chegaria à mesma conclusão.
Mas a verdade é bem pior e nada estimulante: Nada do que foi feito, nenhum dos projetos porém os tirou da situação de pobreza em que se encontravam quando vivi entre o grupo entre 2002 a 2006 e os que vivem na Terra Indígena continuam na mesma situação de pobreza e dependência do estado.
Isso não quer dizer que não existam índios e famílias Xerente que prosperaram. Na verdade existem muitos deles prosperaram, mas todos os que fizeram SAÍRAM E MUDARAM-SE DE SUAS ALDEIAS,  PARA VIVER NAS TRÊS MAIORES CIDADES da proximidadeTocantínia e Miracema do Norte e Pedro Afonso. Mais da metade da população Xerente deixou as Terras Indígenas e hoje a Terra Indígena é um verdadeiro local de pobreza e miséria onde só moram velhos e crianças em idade não produtiva. Então temos quase 10.000 hac. demarcados e homologados para uma população de menos de 1.500 velhos e crianças que não utilizam nem 10% desse territória, porque não podem e não querem viver da agricultura ou mesmo da criação. 
 
A população adulta e economicamente ativa, está toda ela alojada nas cidades da proximidade onde trabalha e consegue sua renda. Esta população, quando decide ir para a TI. só o faz nos feriados, finais de semana, ou quando brigaram na cidade e estão fugindo de algum.  Os que ficaram na área Xerente permanecem numa situação de pobreza, e vivem dependendo de Bolsa Família, bolsa maternidade, aposentadorias etc… se alimentam com cestas básicas dadas pelas prefeitura ou estado… Vivem e empregos estatais que só lhes dá o que precisam para sobreviver. Se a população mais idosa se contenta com isto, os mais jovens evidentemente não o fazem e querem mais, muito mais. E é por esta razão que, mesmo nunca tendo cobrado pedágio nas estradas que cortam a área, passaram agora a inovar em suas atividades econômicas e a ingressar nesta prática condenável, com o adendo de que também passaram a roubar os motoristas que cruzavam as rodovias federais: http://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2013/12/indigena-e-baleado-e-policiais-ficam-feridos-durante-confronto-no.html.  Mas é claro que, perante os repórteres,  os Xerente não iriam reconhecer que estavam roubando os transeuntes, mas apenas cobrando pedágio: http://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2013/12/gente-so-estava-cobrando-pedagio-diz-irmao-de-indigena-baleado.html
Lamentável e triste é perceber que, depois de tantos avanços e de tantas medidas, projetos e programas para um dos grupos mais assistidos do Brasil Central, nada mudou e não estamos nem perto de uma solução real para o problema do conflito indígena que revela-se pior do que imaginávamos… e vai de mal à pior.
Nos venderam uma inverdade de que a demarcação das terras indígenas traria solução para seus problemas, mas cada dia fica claro que esta é um dos maiores mitos que contaram ao povo brasileiro nas últimas cinco décadas. Resta-nos estudar, pesquisar e propor reais soluções para os verdadeiros problemas indígenas: pobreza, dependência em todas as esferas e não-inserção na sociedade e na cadeia produtiva regional.
A sociedade brasileira precisa acordar para o fato de que estamos longe de ter uma solução para o problema indígena.
Quem sabe um dia, quando pensarmos e trabalharmos coletivamente como uma sociedade realmente preocupada com nossos indígenas poderemos ouvir e ler notícias melhores sobre nossos irmãos indígenas que integram e ajudam a construir esta grande nação brasileira.
Att, Edward M. Luz. Antropólogo

‘A gente só estava cobrando pedágio’ diz irmão de

indígena baleado

Indígena e policiais ficaram feridos durante confronto em Tocantínia.

Versão de indígena é diferente da dos policiais militares.

Menor indígena é apreendido suspeito de roubar motoristas em rodovia do Tocantins (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Menor indígena é apreendido suspeito de roubar
motoristas em rodovia do Tocantins
(Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O menor indígena que foi apreendido nesta terça-feira (24) suspeito de praticar roubos com outros indígenas, em uma rodovia estadual perto de Tocantínia, disse que os Xerentes estavam apenas cobrando pedágios. Ele é irmão do indígena que foi baleado durante um confronto com a polícia. Os policiais deram outra versão. Eles afirmaram que receberam denúncia de que indígenas estavam roubando os motoristas que trafegavam pelo trecho entre Tocantínia e Pedro Afonso.

O menor disse ainda que o grupo não agrediu os policiais. “Os policiais chegaram agredindo a gente. Já atiraram no meu irmão e eu peguei o facão para defendê-lo”. O menor foi encaminhado à delegacia, mas segundo o delegado que responde pelo caso Rodrigo Santili, a promotoria determinou a liberação dele.

O indígena baleado na perna está no Hospital Geral de Palmas sob custódia da Secretaria de Segurança, Cidadania e Justiça do Tocantins. Ele vai responder por tentativa de homicídio, segundo o delegado. Outros três indígenas, que também estavam no local, vão responder por roubo. O menor será encaminhado à Vara da Infância e Juventude.

Armas encontradas com os indígenas durante desentendimento (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Armas foram encontradas com os indígenas em
Tocantínia (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

O delegado disse que tem 10 dias para concluir o inquérito. Os motoristas, possíveis vítimas do assalto, vão ser ouvidos na próxima semana.

Entenda
O comandante da 6ª Companhia Independente da Polícia Militar em Miracema do Tocantins, coronel Márcio Bandeira, afirmou que os condutores que trafegavam pela rodovia disseram que havia vários indígenas (não souberam dizer a quantidade exata) roubando nesta terça-feira. “Não era uma revista. Em um caso eles pediram a carteira mesmo. Não aceitavam notas de R$ 10 ou R$ 20”. Segundo o coronel, dois indígenas estavam armados, um com um facão e o outro com uma espingarda.

Quando a polícia chegou ao local, alguns indígenas fugiram. Apenas três ficaram. Segundo o coronel, no momento em que um policial foi revistar um indígena, eles agrediram os policiais. Para revidar, um atirou na perna do indígena que estava armado. Ele se rendeu e entregou a arma.

Dois policiais ficaram feridos, um foi atingido no braço por um golpe de facão e o outro foi agredido fisicamente, segundo a PM. Eles foram encaminhados para o Hospital Regional de Miracema do Tocantins. Com os indígenas, a Polícia Civil apreendeu um facão, uma espingarda e R$ 60. Segundo o coronel Bandeira, a Corregedoria Geral da Polícia Militar vai  instaurar o procedimento para investigar o caso.

 

“Só tem crime, quando tem corpo”, diz Funai sobre crise de Humaitá (AM)

O Coordenador-geral de Índios Isolados da Funai, Carlos Travassos, afirmou que a Fundação trabalha com a suspeita de assassinato para a morte do cacique Ivan Tenharim. Sobre o desaparecimento dos três cidadãos não indígenas que motivou o revolta da população de Humaitá, Travassos disse que a Funai não fez ideia da razão. “Mas não fazemos ideia do motivo do sumiço das três pessoas. Só tem crime, quando tem corpo. Não entendi essa reação da população”, disse Travassos a um site de jornalismo parcial indigenista.

No dia 03 de dezembro o Cacique Ivan Thenharim foi encontrado ferido na Rodovia Transamasônica (BR 230). A Polícia Federal afirma que o cacique pilotava sua moto bêbado e morreu em decorrência de um acidente de trânsito. Três dias depois o Blog oficial da FUNAI de Humaitá-AM publicou uma matéria levantando suspeitas sobre a morte do cacique exatamente como fez Carlos Travassos agora.

Veja uma cronologia dos acontecimentos que culminaram com a revolta popular em Humaitá

As ilações da Funai sobre o morte de Ivan Thenharim insuflaram os índios contra a população branca e pode estar na fonte do conflito em Humaitá. Entenda: Explode mais um conflito no Amazonas. População incendeia prédio da Funai. Indígenas estão refugiados no quartel do Exército

Para quem não se lembra Carlos Travassos é o mesmo funcionário da Funai que afirma no vídeo aqui ao lado que a Funai não tem responsabilidade com o reassentamento de famílias não índias expulsas de terras demarcadas, nem se curvará ao Congresso Nacional.

Também ontem a Funai divulgou uma Nota Oficial na qual enfatiza os atos de vandalismo dos não índios e os danos ao erário causados pela população, mas não faz qualquer referência ao desaparecimento dos três cidadãos não indígenas ou ao hábito dos índios de cobrar pedágio ilegalmente na rodovia.

Veja Nota Oficial da Funai:

A Funai vem a público repudiar a violência ocorrida na noite da última quarta-feira (25), onde manifestantes do Distrito de Santo Antonio de Matupi incendiaram o prédio da Fundação Nacional do Índio em Humaitá, município localizado a 675 quilômetros de Manaus, destruindo também veículos e barcos oficiais.

Atos de vandalismo contra o patrimônio público são injustificáveis e configuram ilícitos.

Os manifestantes reivindicam a busca de três pessoas desaparecidas desde o último dia 16.

Nesse sentido, informamos que não compete à Funai promover ações de investigação, apuração, ou buscas de pessoas desaparecidas. Essas ações constituem atribuições das Forças de Segurança Pública.

Vale ressaltar que a Funai se colocou sempre à disposição para apoiar e colaborar com as autoridades em apurações e no acompanhamento do diálogo com os indígenas.

A Fundação Nacional do Índio é um órgão público que integra a estrutura do Governo Federal, e atua no estrito cumprimento de seu dever de proteger e promover os direitos dos Povos Indígenas.

É fundamental reafirmar, nesse momento, os princípios que regem o Estado Democrático de Direito, no âmbito do qual são reprováveis a prática de ameaças, de violência física e moral contra indígenas e contra servidores públicos, e a depredação do patrimônio público, causadora de enorme prejuízo ao erário.

Manifestamos nossa disposição de cooperar com as ações tendentes ao distensionamento dos conflitos na região e à preservação das vidas dos indígenas, dos servidores, e dos cidadãos locais.

Solicitamos que a população atue no sentido de contribuir também com a reversão desse quadro perigoso e negativo, com a liberação dos acessos aos municípios da região para que as autoridades policiais possam realizar seus trabalhos e tranquilizar todos moradores daquela região.

 

Fonte: NA + G1

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