Os preços da soja para o produtor brasileiro na temporada 2013/14 serão remuneradores, segundo analistas de mercado, apesar de menores do que os registrados na temporada anterior. “Ao longo do tempo, o preço médio deverá ser muito bom, e nesse começo de temporada até superior do que o de anos anteriores”, acredita Camilo Motter, economista da Granoeste Corretora de Cereais.
A necessidade mundial de soja, principalmente por parte da China, maior importador global da commodity, se mostra latente e dá sinais frequentes de crescimento. Nos Estados Unidos, as vendas e embarques acontecem em ritmo recorde esse ano e a meta estipulada para toda a temporada comercial, de 40,69 milhões de toneladas, já foi superada.
Assim, a demanda pela oleaginosa deverá se voltar, cada vez mais para a América do Sul e a grande safra que tem sido produzida, principalmente por Brasil, Argentina e Paraguai, não deverá ser suficiente para atender com tranquilidade os importadores. Só os chineses deverão importar, no atual ano comercial, 69 milhões de toneladas, volume esse que pode ser superado, segundo alguns analistas.
Com esse quadro, Motter acredita,portanto, que a expressiva produção sulamericana não deverá exercer uma pressão forte e extensa sobre as cotações, o que deverá ser refletido tanto no mercado em Chicago quanto no Brasil. “Estamos colhendo uma grande safra, mas não será suficiente para derrubar os preços. Teremos preços remuneradores”.
Porém, o custo de produção dessa safra poderá ser maior. O aumento deverá ser reflexo da necessidade de um maior número de aplicações de defensivos para o controle da Helicoverpa e de outras pragas. O ataque de lagartas, como a Falsa-Medideira, foi bastante intenso. Apesar disso, o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessoa, acrdita que a perda de 5% na produção brasileira por conta do ataque da Helicoverpa armigera não deverá se confirmar. Em uma coletiva de imprensa para o Rally da Safra deste ano, Pessoa disse que a praga está controlada na maior parte das regiões produtoras e ainda não há dados econômicos significativos.
‘É lógico que vai custar mais caro controlar essa nova praga, mas nós conseguimos desenvolver uma tecnologia satisfatória em um período de apenas um ano, o que é uma ótima notícia’, disse o executivo.
Logística e Comercialização – Nesta safra, a soja precoce cultivada no Brasil aumentou expressivamente e, por isso, o volume a ser colhido entre janeiro e fevereiro deverá ser maior. De acordo com o diretor da Agroconsult, a expectativa é de que 42% da área já esteja colhida, registrando um índice recorde.
Dessa forma, o caos logístico poderá se instalar mais cedo no país e os problemas para o escoamento de uma safra de soja 10 milhões de toneladas maior do que a anterior poderão ser agravados. “Vai ter muita soja chegando aos portos e isso pode causar um caos logístico mais cedo do que no ano passado’, disse Pessoa. ““Teremos muita colheita de soja nesse período, desafiando novamente as condições logísticas brasileiras. No ano passado houve acúmulo da exportação de soja e milho em março, e este ano o volume de soja será ainda maior. Ainda será uma safra em que deficiências de transporte, armazenagem, pragas e mão de obra terão impacto econômico direto sobre produtores e cadeia de insumos”, completa.
Frente a isso, as vendas anteciparam diminuíram no Brasil em relação à safra 2012/13 e ainda há um grande volume para ser negociado no país, e o mesmo acontece na Argentina. Conhecendo o ajustado quadro de oferta e demanda e melhor capitalizados, os produtores brasileiros vêm aguardando por melhores oportunidades de venda, em função, até mesmo do bom momento do dólar que, ao longo de 2013, se valorizou 18% e que mantém uma tendência altista frente à moeda brasileira.
“O estado que tem um ritmo maior de comercialização é Mato Grosso, com pouco mais de 55% da safra negociada, de uma safra de mais de 26 milhões de toneladas (…) E os compradores sabem que o Brasil ainda tem muita soja para ser negociada (…) E o mercado ainda é favorável para o produtor, porque terá como base de US$ 12 a US$ 13, com US$ 13,50 em alguns momentos, e com esse câmbio acima de R$ 2,30 dá margem e lucratividade ao produtor, o que configura um bom ano novamente”, explica o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Com uma pressão de oferta menor, dada a retenção nas vendas por parte dos produtores, a tendência é de que os prêmios subam, também favorecendo os preços, já que os compradores continuam com sua demanda muito aquecida. “Há inúmeros navios chegando aos portos brasileiros para entrarem na fila e esperar soja, mesmo tendo que ficar um mês parado. Isso é sinal de que há muita demanda no mercado mundial. E como temos uma grande oferta de navios, esse é um fator importante que talvez não deixe os prêmios caírem tanto como em anos anteriores”, afirma o consultor.