A empresa de biotecnologia Syngenta AG está avançando no mercado norte-americano com suas vendas de uma variedade de milho geneticamente modificado que ainda não é aprovada pelo governo chinês. Segundo a Reuters, isso alimenta as preocupações de uma nova disputa comercial com o maior importador de commodities agrícolas do mundo.

Enquanto a Syngenta faz seu lobby para que o governo chinês deixe de rejeitar cargos de milho com variedades geneticamente-modificadas não autorizadas, produtores norte-americanos estão decidindo se devem ou não apostar no cultivo da nova variedade lançada pela empresa, que deve combater a praga chamada corn rootworm, ou diabrotica.

A empresa anuncia que sua nova variedade – Agrisure Duracade – está disponível para cultivo pela primeira vez este ano, ainda em “quantidades limitadas”, depois que as autoridades norte-americanas a autorizaram no ano passado.

Para alguns produtores, este será um risco que vale a pena correr: as infestações de diabrotica se tornaram um grande desafio nos principais estados produtores, como Iowa e Illinois, onde os produtores têm cultivado milho nos mesmos campos, ano após ano, estimulados pelos preços altos. A tradicional prática de rotação de lavouras com o milho e a soja ajudou a controlar a praga em algumas regiões.

Riscos de rejeição
Mas o cultivo da Duracade também traz ameaças de novos desacordos – e milhões de dólares de perdas para negociadores globais, se a nova variedade também passar a sofrer rejeições pelo governo chinês, de acordo com alguns analistas.

Rich Feltes, vice-presidente do mercado de commodities da R.J. O’Brien, afirma que a comercialização da Durcade poderá “trazer mais contaminações aos embarques de milho para a China, provocando o atraso e embargo de novos cargos”.

A questão já está dividindo opiniões no setor agrícola, enquanto grupos nacionais pressionam o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a aprovar a nova variedade. Enquanto isso, alguns lobistas de grãos já anunciaram, em 2012, que a nova variedade poderá prejudicar as negociações dos Estados Unidos, já que ela ainda não é aceita pelos principais importadores.

Algumas empresas de sementes norte-americanas também se negaram a licenciar a Duracade, alegando que os produtores ficarão com sua produção emperrada, se os elevadores de grãos e os exportadores se recusarem a comprar seu milho.

Os Estados Unidos devem exportar 1,45 bilhões de bushels (ou 36,8 milhões de toneladas) de milho no ano comercial que acaba em 31 de agosto.

Resistência do governo chinês
Em novembro de 2013, as autoridades chinesas começaram a rejeitar os cargos de milho dos EUA que continham a variedade Agrisure Viptera, conhecida como MIR 162, que tem esperado pela autorização de Pequim há mais de dois anos.

A razão de alguns cargos terem sido liberados, enquanto outros foram barrados, ainda não está clara. Analistas e traders ofereceram diferentes explicações, como possíveis tensões comerciais ou a intenção de dar suporte aos preços do milho doméstico.

Independente do motivo, mais de 600 mil toneladas de milho norte-americano e subprodutos de milho já foram rejeitados, enfraquecendo os preços no mercado dos EUA.

A Syngenta informa que não considera tirar o Duracade do mercado e defende que os produtores precisam ter acesso a novas tecnologias, segundo o porta-voz da empresa, Paul Minehart.

Em linha com os padrões industriais, Minehart informa que a Syngenta comercializa as variedades de milho depois que consegue a aprovação de países com “sistemas regulatórios funcionais”.

“Os sistemas regulatórios da China e da União Europeia não são considerados funcionais de acordo com a política de indústria, já que seus processos de tomada de decisão não são previsíveis e podem ser influenciados por decisões políticas”, disse o porta-voz.

A União Europeia ainda não aprovou as importações da Duracade.

A Syngenta requisitou a aprovação chinesa para as importações da Duracade depois que as autoridades norte-americanas liberaram a variedade em fevereiro de 2013.

Teoricamente, o Ministério da Agricultura da China teria 270 dias para tomar uma decisão. No entanto, fontes da indústria informam que esse processo pode levar até 2 anos, após a aprovação dos Estados Unidos.

A Syngenta já conseguiu a aprovação da Duracade no México, Coréia do Sul, Japão, Austrália, Nova Zelândia e Taiwan.

“Os Estados Unidos e a China não têm processos de aprovação sincronizados. Se a China não mudar seu procedimento de aprovação de novas variedades, isso pode continuar sendo um problema para o futuro da comercialização entre os dois países”, afirmou Li Qiang, analista sênior da JC Intelligence Co., baseada em Shanghai.

As compras chinesas de milho norte-americano se iniciaram nos últimos anos. Atualmente, as 14% das exportações de milho dos EUA vão para a China.

Ameaça da Diabrotica
A diabrotica – ou rootworm – é considerada uma bomba-relógio nas lavouras norte-americanas. Estima-se que seus custos de controle e perdas de produtividade cheguem a US$ 1 bilhão anualmente.

Informações: Reuters

Tradução: Fernanda Bellei

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