Enquanto Nicolás Maduro comandava as homenagens oficiais a Hugo Chávez, que morreu há exatamente um ano, em companhia do ditador Raúl Castro, de Cuba, e do protoditador da Bolívia, Evo Morales, milhares de venezuelanos saíam às ruas para protestar contra o governo, a maioria vestida de preto, em sinal de luto — mas não pela morte de Chávez. Fotos postadas no Twitter por manifestantes dão conta de que as barricadas se espalham pela grande Caracas e por outras cidades país afora. Os confrontos com a Guarda Nacional Bolivariana são permanentes, e houve dezenas de detenções. Maduro tem, até agora, um único argumento — ou dois: porrete e bombas de gás lacrimogênio. O que há em comum entre os manifestantes de lá e a turma do quebra-quebra daqui? Nada. A Venezuela é uma ditadura. O Brasil é uma democracia.

Duas fotos postadas nas redes sociais dão conta do caráter que estão assumindo as manifestações e a repressão. Numa delas, uma jovem que segurava uma cartolina de protesto faz um cone e o aponta contra os soldados, armados até os dentes. Evidencia-se, assim, que, de um lado, estão manifestantes desarmados e pacíficos; de outro, as tropas do regime, que já mataram 19 pessoas. Vejam.

Venezuela 1 - cartolina contra armas

Uma outra é ainda mais estupefaciente. Soldados da Guarda Nacional Bolivariana tentam impedir homens de uma força municipal de segurança da cidade de Carrizal de socorrer vítimas dos confrontos. Apontam armas contra aqueles que estão prestando socorro.

Venezuela 3 - Soldados Prefeitura Carrizal (estado de Miranda)

Nicolás Maduro, o presidente, não obstante, segue a sua marcha, tomado pela mesma loucura de Hugo Chávez, mas sem os mesmos dotes histriônicos, no comando de um país em que a economia e a institucionalidade foram destruídas.

Nesta quarta, num ato patético, Maduro rompeu relações políticas e comerciais com o governo do Panamá, a quem acusou de lacaio dos Estados Unidos. Ricardo Martinelli, o presidente panamenho, solicitou uma reunião de chanceleres da Organização dos Estados Americanos para debater a crise na Venezuela. Maduro já afirmou que não aceita a mediação da OEA. Em nota oficial, Martinelli se disse surpreso e afirmou que o único desejo do Panamá é que os venezuelanos encontrem a paz e a democracia. Ocorre que isso é tudo o que Maduro não quer.

No discurso que fez em homenagem a Chávez, Maduro acusou os manifestantes de tentar explodir 15 túneis, além de estradas e pontes. Obviamente, trata-se de uma mentira deslavada. Onde estão as evidências? Não existem. Chamou de “fascistas” os que protestam e convocou as milícias governistas — estas, sim, fascistoides — a enfrentar os que vão as ruas.

Em suma, a Venezuela tem hoje na Presidência da República um louco delirante que exorta milícias armadas a enfrentar no muque os que se manifestam em defesa da democracia. Alguns dos mortos, não custa lembrar, foram atingidos por atiradores anônimos. Isso torna Maduro cúmplice óbvio de assassinos. E tudo se dá, repita-se quantas vezes isso se fizer necessário, sob o silêncio cúmplice do governo Dilma — aquele mesmo que instituiu por aqui uma Comissão da verdade.

Fica cada vez mais patente que Dilma não fez essa opção por amor à Justiça, mas para se vingar de inimigos ideológicos. Ou não silenciaria, agora, sobre 19 cadáveres que já se contam na luta dos venezuelanos em favor da liberdade. O comportamento do governo brasileiro é repulsivo.

Por Reinaldo Azevedo

 

Encontro de Dilma com petistas, já transformado em material de campanha, é, obviamente, ilegal!

Vejam esta foto, de Ricardo Stuckert, do Instituto Lula.

Dilma comitê eleitoral

Tudo nela é ilegal.

Em pé, veem-se Lula e Dilma no gesto clássico de união de forças, com as mãos dadas, cada um agarrado ao punho do outro, para demonstrar a aliança inquebrantável. No lado direito da mesa, o deputado estadual Edinho Silva, presidente do PT de São Paulo; o marqueteiro João Santana e, escondido atrás de Lula, Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil. Do lado esquerdo, Giles Azevedo, ainda chefe de Gabinete da Presidência; o deputado estadual Rui Falcão, presidente nacional do PT, e Franklin Martins, que será chefe da área de comunicação da campanha de Dilma à reeleição.

Eles estão no Palácio da Alvorada, que é a residência oficial de Dilma, mas que, nem por isso, deixa de ser um prédio público. É aceitável que Dilma receba políticos em sua, vá lá, casa, mas não que transforme o lugar num comitê de campanha. O objetivo da reunião era tratar da campanha eleitoral de 2014 — principalmente a de Dilma, mas também debater o panorama nacional, as alianças do PT etc.

Se querem a evidência de que se trata de uma ilegalidade, recorramos a uma espécie de legislação comparada. Se Dilma decidisse montar desde já um comitê de campanha, a Justiça Eleitoral mandaria fechá-lo porque isso ainda é proibido. Como pode, então, usar uma edificação pública com essa finalidade, ainda que parte do lugar lhe sirva de residência? E aqui cumpre notar: ali, sim, a residência da presidente Dilma Rousseff, mas quem comandou a reunião foi  a candidata Dilma Rousseff.

A reunião foi realizada na biblioteca do palácio, que é uma das áreas não-íntimas do prédio. Já estive no local. Há livros lá de altíssima qualidade, diga-se, que estão acumulando poeira nos últimos 11 anos. Muitos deles poderiam contar à presidente Dilma, entre outras coisas, que Manaus é a capital do Amazonas, não da Amazônia, como ela anunciou recentemente ao mundo. Certamente não foi devorando aqueles muitos volumes que Lula chegou à conclusão de que o planeta Terra teria muito a ganhar se, em vez de redondo, fosse quadrado, como ele conjecturou certa feita.

Vejam a foto. É o dinheiro público que paga a luz elétrica, o papel, a água, a faxina que foi feita, a segurança e, tenho certeza, o transporte que conduziu a turma até ali — ou Mercadante e Giles Azevedo, que exercem cargos no ato escalão do governo, chegaram dirigindo os respectivos carros? Acho que não!

Reitero: Dilma receba quem quiser na residência oficial. Ocorre que o encontro, com imagem divulgava pelo Instituto Lula, já se transformou num evento de campanha eleitoral. E é evidente que prédio e dinheiro públicos não podem ser destinados a este fim. Alguém poderá dizer que estou sendo rigoroso demais. É… Sou assim mesmo. De uma presidente da República, o mínimo que espero é que cumpra a lei.

Por Reinaldo Azevedo

 

Dilma recebe Lula e monta “comitê” eleitoral no Palácio da Alvorada

Por Marcela Mattos, na VEJA.com:
A residência oficial da Presidência da República foi transformada em uma extensão do diretório do PT nesta quarta-feira, em Brasília: a presidente Dilma Rousseff convidou seus principais conselheiros, entre eles o ex-presidente Lula e o marqueteiro João Santana, para debater os rumos de sua campanha à reeleição, a montagem de palanques e as chapas do partido nos Estados.

Além de Lula e Santana, participaram do encontro o ex-ministro Franklin Martins, que cuidará da comunicação da campanha, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), o presidente do PT, Rui Falcão, o deputado Edinho Silva (PT-SP) e o chefe de gabinete da Presidência, Giles Azevedo, que também terá papel central na campanha.

Dilma passou os últimos quatro dias na base naval de Aratu, na Bahia, com familiares. Nesta quarta, não tinha nenhuma agenda oficial de trabalho registrada. Mas o encontro com os petistas acabou revelando as prioridades da presidente.

Por Reinaldo Azevedo

 

 

Todos disputam a sua cota de chorume na greve dos garis do Rio. Ou: Olhem lá a extrema esquerda metida no lixo!

Quem diria, hein? A extrema esquerda com o nariz enfiado no lixo que se acumula nas ruas do Rio! À sua maneira, está no lugar certo. Então ficamos assim: recolher o lixo e lhe dar a devida destinação é mesmo coisa “de direita”; deixar que se acumule nas praças e passeio público em nome da libertação da classe operária — afinal, “a classe dos garis é internacional” — compõe a estratégia planetária da esquerda…

É evidente, a esta altura, que a greve está sendo manipulada — mais uma vez! — por uma minoria de extrema esquerda e por oportunistas. Hoje, no Rio, nem o lixo é neutro: todos disputam um pouco do chorume: Marcelo Freixo, Lindbergh Farias, Garotinho, cada um de olho na sua estratégia. Como já ficou evidente, o sindicato dos garis havia aceitado o acordo feito com a Prefeitura, mas aí entraram os militantes profissionais, e tudo, literalmente, azedou. Pior para a população do Rio.

E vai continuar azedando enquanto os repórteres, em momentos em que o poder público está sendo chantageado, enfiarem o microfone ou o gravador na cara da autoridade — a exemplo do que se fez com o prefeito Eduardo Paes — para perguntar sobre o lixo. “Mas não cabe a ele dar uma resposta?” É, cabe, sim! Mas cabe à imprensa informar o que está em curso e quem faz o quê na guerra do lixo.

Vejam lá quem apareceu para disputar a sua cota de chorume: o tal DDH (Defesa dos Direitos Humanos), aquela ONG que é comandada por um subordinado de Marcelo Freixo, que fala como Marcelo Freixo, que pensa como Marcelo Freixo, que age como Marcelo Freixo, mas que, claro!, não é ligada a Marcelo Freixo, o preferido do “liberal” Caetano Veloso (ele ainda é cantor?)…

Mais uma vez, a população do Rio, e isso pode acontecer em qualquer cidade, é refém de meia dúzia de lunáticos, que têm as contas pagas sabe-se lá por quem (se formos investigar a fundo, podem crer, é dinheiro público), que usam a desordem pública a serviço de sua causa. Quanto à questão em si, defendo para garis ou para juízes o de sempre: sou contra greve de servidores ou de prestadores de serviços essenciais. Se e quando, dentro da lei, puderem ser demitidos, que sejam.

“Não tem pena dos garis, assim como não tinha dos professores?” Tenho é respeito por aqueles que dependem do trabalho dessa gente — garis, professores ou juízes — e que não lhes impuseram essa ou aquela atividades.

Por Reinaldo Azevedo

 

Militantes profissionais tentam dominar greve dos garis no Rio

Por Pâmela Oliveira e Daniel Haidar, na VEJA.com. Volto no próximo post.
Ação da Comlurb mostra como fica a praia de Copacabana sem a realização do trabalho de limpeza. Os resíduos coletados durante a noite do dia 20 e madrugada de hoje ficaram expostos para mostrar quanto lixo é jogado de maneira incorreta, alertando o que aconteceria se os garis não limpassem

Os black blocs ainda não chegaram, mas é questão de tempo. Uma reunião entre garis grevistas e representantes do município e da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio (Comlurb), iniciada por volta do meio-dia, tem, do lado de fora, a estranha participação de um contingente que nada tem a ver com os profissionais encarregados da limpeza urbana do Rio. O grupo, nitidamente, não tem intimidade com a vassoura, mas manipula com destreza equipamentos como megafones, faixas e redes sociais. Quem está nas cordas, no momento, são os garis, que podem ter seu legítimo direito de greve e manifestação transformado em pretexto para mais um levante com transtornos imprevisíveis para a cidade.

Uma equipe da TV Globo que chegou ao local às 14h foi expulsa, com gritos de “abaixo a Rede Globo”. Pessoas que chegaram ao local pouco depois das 13h circulam querendo saber quem são os jornalistas e para que empresa trabalham. Por volta das 14h10, uma mulher, com um megafone, convocou os cerca de 300 garis presentes para “sentar no chão e fechar a rua”. Os próprios garis recusaram a proposta. Disse um deles: “Não vamos fazer isso. A população está do nosso lado, não queremos que ela fique contra”.

Surgiram no local panfletos que, segundo os próprios garis, não foram feitos por grevistas. Assim como faixas da cor laranja – a mesma dos uniformes dos garis – para tentar repetir o que se viu no Rio em 2012, quando fitas vermelhas nas antenas dos automóveis indicavam quem simpatizava com a greve dos bombeiros.

Três grevistas foram detidos na Avenida Vieira Souto, na tarde desta quarta-feira, por supostamente ameaçar garis que tentavam trabalhar. Eles foram levados por policiais militares para a 12ª DP (Copacabana), segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura do Rio.

A greve iniciada no último sábado foi declarada ilegal pela Justiça do Trabalho. Ainda assim, um grupo se recusou a voltar ao trabalho. Cerca de 300 garis, segundo a Comlurb, seriam demitidos. Há, no entanto, a possibilidade de reintegração para os que voltarem ao trabalho. A cidade ainda tem pilhas de lixo acumuladas em algumas ruas. O presidente da empresa, Vinícius Roriz, afirmou esta manhã que prevê a normalização dos serviços em no máximo três dias. O impasse com os grevistas, no entento, não parece perto do fim.

Uma manifestação de grevistas foi convocada para as 12h na sede da Comlurb, na Rua Major Ávila, na Tijuca, Zona Norte. Por volta das 13h, uma comissão composta de dez garis entrou no prédio, acompanhada de um defensor público. Surgiram, em seguida, integrantes da ONG Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (DDH), a mesma que auxiliou a família do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido em julho, e que atuou para defender manifestantes presos. Segundo a assessoria de imprensa, a Comlurb e a Prefeitura do Rio não receberam representantes de grevistas e não vai negociar com eles.

Mandado para garantir segurança- A Prefeitura do Rio obteve um mandado de intimação do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região para garantir a segurança de garis que não estejam em greve. O desembargador José da Fonseca Martins Junior determinou que um oficial de Justiça compareça a cada gerência de operação para garantir o acesso e a segurança dos trabalhadores. Pode até requisitar o acompanhamento de policiais. Também foi dobrada a multa diária de 25 mil reais para 50 mil reais para o Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do município do Rio de Janeiro, em caso de não retorno ao trabalho. O sindicato, no entanto, não apoia a greve e não tem a legitimidade reconhecida pelos grevistas.

Apesar de ter divulgado que deu um aumento de 9% para o piso salarial dos garis como se fosse uma concessão aos grevistas depois dos protestos, na verdade esse reajuste era obrigatório por lei. A Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro aprovou no último dia 25 que o piso no estado do Rio para serventes e trabalhadores de conservação seja elevado de 802,53 reais para 874,76 reais. A lei ainda precisa ser sancionada pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) nos próximos dias, mas, na prática, a Comlurb se antecipou a esse reajuste. Procurada, a assessoria de imprensa alegou que apenas uma minoria de trabalhadores recebe o piso salarial e que todas as outras faixas salariais tiveram um reajuste de 1,68%, além dos 9%.

Os grevistas foram informados na segunda-feira que, a partir das 19h daquele dia, quem não voltasse ao trabalho seria demitido. Ao longo da terça-feira, foram enviadas correspondências para os cerca de 300 grevistas que insistiam na paralisação. Eles pedem aumento do piso salarial para 1.224 reais, além de aumento do vale-refeição para 20 reais e outras gratificações. Desde que a paralisação começou na noite de sexta-feira, a Prefeitura do Rio aumentou o piso salarial para 874,70 reais, que é somado aos 40% de adicional de insalubridade.

Por Reinaldo Azevedo

 

A farra da cocaína e da maconha no Brasil. Por que seria diferente? E vai piorar, é claro!

O consumo de cocaína no Brasil corresponde a mais do que o quádruplo da média mundial. Se você tem a impressão de que os EUA, digamos, cheiram mais do que o Brasil, você está errado — ao menos em termos relativos. Banânia também é um sucesso internacional no consumo na queima de mato — refiro-me à maconha. Leiam o que informa Jamil Chade, no Estadão. Volto em seguida.
*
O consumo de cocaína no Brasil mais que dobrou em menos de dez anos (…). Os dados foram divulgados nesta terça-feira pelo Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, entidade ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), em seu informe anual. A entidade também critica a liberalização do consumo de maconha no Uruguai e regiões dos EUA e alerta: jovens sul-americanos parecem ter uma “baixa percepção do risco” que representa o consumo de maconha.

Em 2005, a entidade apontava que 0,7% da população entre 12 e 65 anos consumia cocaína no Brasil. Ao fim de 2011, a taxa chegou a 1,75%. De acordo com os dados da ONU, o consumo brasileiro é bem superior à média mundial, de 0,4% da população. A média brasileira também supera a da América do Sul, com 1,3%, e é mesmo superior à da América do Norte, com 1,5%.
(…)
Citando o governo brasileiro, a ONU aponta que o Brasil apreendeu em 2012 um volume recorde de 339 mil tabletes de ecstasy, cerca de 70 quilos. A média dos últimos dez anos aponta que as apreensões são de menos de 1 quilo por ano. Em 2012, houve ainda 10 mil unidades de anfetamina retidas, além de 65 mil unidades de alucinógenos, o maior volume desde 2007.
(…)
Se o consumo brasileiro cresceu, a ONU constatou uma queda no cultivo da coca na América do Sul em 2012. No total, 133 mil hectares foram plantados, 13% menos do que em 2011. O Peru se consolidou como líder, com 45% do total, seguido por Colômbia e Bolívia, com 36% e 19%, respectivamente.
(…)
Se a cocaína cai, o confisco de “grandes quantidades de maconha” na América do Sul “sugere um possível aumento na produção de maconha da região nos últimos anos”, segundo a ONU. A apreensão de maconha teve uma forte queda no Brasil entre 2011 e 2012, de 174 toneladas para apenas 11,2 toneladas.
(…)
A entidade ligada à ONU deixou clara sua preocupação diante de leis que regularizam o consumo. “O Conselho nota com preocupação a baixa percepção de risco diante do consumo da maconha entre a população jovem em alguns países sul-americanos”, indica, apontando para estudos que mostram que 60% dos jovens no Uruguai consideram o risco do uso baixo.

Retomo
Por que seria diferente? O consumo de droga é um crime leve, bem levinho, só no papel. De fato, o sujeito que é encontrado com droga apenas para o seu consumo só acaba diante de um juiz se o policial for do tipo caxias, que não liga de perder o seu tempo em nome de sua missão. Eu mesmo, fosse um deles, não daria a menor bola. Pra quê? O máximo que o juiz pode fazer é condenar o sujeito a prestar algum serviço comunitário. É o que está no Artigo 28 da Lei 11.343, que fica a um passo de chamar o usuário de “majestade” e “excelência”. Transcrevo em vermelho. Volto seguida.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I – advertência sobre os efeitos das drogas;

II – prestação de serviços à comunidade;

III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§ 5º A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§ 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I – admoestação verbal;

II – multa.

§ 7º O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Retomo
Como se nota, o capítulo encarregado de “punir” o usuário termina dando uma atribuição nova ao estado. País que pune com severidade o tráfico, mas, na prática, libera o consumo — e vocês sabem que a pressão é grande para que haja a descriminação total no país — está atuando em parceria com os traficantes. O que pode haver de melhor para o fornecedor ilegal do que demanda liberada com oferta reprimida?

“Ah, então que se legalize tudo…” Bem, já temos uma experiência de legalização total das drogas: é a Cracolândia, que rebatizei de Haddadolândia. Ali, até os viciados foram estatizados — de certo modo, é uma experiência ainda mais radical do que a do Uruguai. O prefeito de São Paulo os transformou, metafórica e literalmente, em funcionários públicos.

É evidente que a explosão do consumo está ligada à tolerância com a droga e aos lobbies cada vez mais fortes em favor da descriminação do consumo, o que deve levar os traficantes a rir de orelha a orelha. Na cadeia, os Marcolas e os Fernandinhos Beira-Mar devem pensar: “Como é fácil ser bandido no Brasil com essa elite de bananas deslumbrados!” Eles sabem, obviamente, que a legalização do que hoje é chamado “tráfico” dificilmente chegará — a menos que os estados nacionais queiram ser governados por uma Internacional das Drogas.

No fim das contas, eles e os ditos “intelectuais” que defendem a descriminação das drogas trabalham em parceria. Associações objetivas independem de disposições subjetivas.

Por Reinaldo Azevedo

 

Há um ano, morria Chávez; a Venezuela está nas ruas; cresce solidariedade internacional à luta por democracia; Dilma manda “Top Top Garcia” se sujar de sangue na festa do chavismo

Marcha Venezuela

Há exatamente um ano, no dia 5 de março de 2013, morria Hugo Chávez, o homem que só ascendeu ao poder, em 1999, em razão de uma grave crise política na Venezuela. Ele permaneceu no poder por 14 anos, boa parte do tempo como ditador, e criou um modelo de governo que conduziu o país ao colapso.

Nicolás Maduro, o psicopata que sucedeu o coronel liberticida, tentará nesta quarta-feira, mais uma vez, instituir o culto à memória do tirano. As milícias armadas do chavismo foram convocadas para grandes manifestações públicas. O risco de confronto é grande.

Nesta terça, milhares de venezuelanos (fotos) voltaram às ruas para protestar contra o governo. Os motivos vão se multiplicando: crise econômica, autoritarismo, violência, pedido para que se apurem as responsabilidades pelos 18 mortos nos protestos etc. Para o desespero de Maduro, a luta da população venezuelana começa a despertar a solidariedade internacional.

Marcha Venezuela três

A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou uma resolução em que “deplora os atos do governo que constituem uma afronta à vigência da lei, a indesculpável violência perpetrada contra os líderes da oposição e contra os manifestantes e os crescentes esforços para usar politicamente leis criminais para intimidar a oposição política do país”.

Também a Câmara do Chile teve uma atitude decente. Aprovou uma resolução, que deve ser examinada nesta quarta pelo Senado, que insta o presidente do país, Sebastián Piñera, a convocar o embaixador chileno em Caracas para expressar sua repulsa aos atos de violência.

Ex-presidentes de países latino-americanos cobraram o diálogo com a oposição em nome dos princípios da Carta Democrática Interamericana. Assinam a nota Oscar Arias Sánchez, da Costa Rica, também Prêmio Nobel da Paz; Ricardo Lagos, do Chile; Alejandro Toledo, do Peru, e Fernando Henrique Cardoso, do Brasil.

O governo Dilma, no entanto, este impávido colosso, segue mudo. Na verdade, pior do que isso. Marco Aurélio “Top Top”  Garcia, assessor da presidente para assuntos internacionais, deve estar presente hoje às festas oficiais em homenagem a Chávez. Não há como dizer de outra maneira: ao fazê-lo, o governo Dilma suja as mãos no sangue dos opositores venezuelanos.

Marcha Venezuela dois

 

Por Reinaldo Azevedo

 

Líder do PMDB ataca presidente do PT e diz que seu partido deveria rever aliança nacional. Não vai acontecer, mas…

Eduardo Cunha: caça ao Falcão e defesa do rompimento

Eduardo Cunha: caça ao Falcão e defesa do rompimento

A presidente Dilma Rousseff segue sendo a franca favorita no pleito de 2014, ao menos nas condições de hoje, segundo informam os institutos de pesquisa. Mas a instabilidade está no ar, e o PMDB pode dar muita dor de cabeça. Nesta terça de Carnaval, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder inconteste do seu partido na Câmara, rasgou a fantasia e chamou para o confronto o deputado estadual Rui Falcão (SP), presidente do PT. Segundo informa Gabriela Guerreiro, naFolha, chegou a defender o rompimento da aliança nacional do PT com o PMDB.

Há alguma chance de isso acontecer, leitor? Resposta: nenhuma! Michel Temer, vice-presidente da República, é do PMDB e deve ser, de novo, parceiro na chapa de Dilma. Uma coisa, no entanto, é certa: desta vez, os peemedebistas de Pernambuco e do Rio Grande do Sul não serão os únicos rebeldes.

“A cada dia que passa, me convenço mais que temos de repensar está aliança, porque não somos respeitados pelo PT”, escreveu Cunha em seu perfil no Twitter. Ele reagia a declarações atribuídas a Falcão, que, ao visitar o sambódromo, no domingo, teria dito que o grupo de Cunha está descontente porque Dilma se recusou a lhes dar um ministério. Na entrevista à Folha, o líder peemedebista afirmou, referindo-se ao presidente do PT: “Não preciso xingá-lo como fizeram outras lideranças do PMDB porque não sou igual a ele. Mas, por onde passa o Rui Falcão, mais difícil fica a aliança”.

A bancada do PMDB na Câmara decidiu declarar independência nas votações da Casa, e Cunha, pessoalmente, articulou o chamado “blocão”, uma união de partidos da base que, além do PMDB, reúne PP, PR, PTB, PDT, PSC e PROS. Também está no grupo uma legenda que já declarou apoio a Aécio Neves: o Solidariedade. Caso realmente votem em conjunto, somam-se aí 250 dos 513 deputados da Câmara. O grupo ameaça, por exemplo, apoiar uma CPI da Petrobras.

Cunha é do Rio de Janeiro, estado em que a tensão entre PT e PMDB se eleva a cada dia. Os petistas deixaram o governo Sérgio Cabral e vão lançar o senador Lindbergh Farias para o governo do Estado.

O PT e o PMDB fecharam alianças regionais, até agora, em nove estados: Amazonas, Rondônia, Pará, Tocantins, Distrito Federal, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e Santa Catarina. Juntas, essas unidades da federação reúnem 21,7 milhões de eleitores, ou 15,43% do total. Serão, com certeza, adversários em 11 estados: Acre, Roraima, Piauí, Pernambuco, Bahia, Minas, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio, Paraná e Rio Grande do Sul, o que corresponde a 95,9 milhões de eleitores — ou 68,21% do total. Em sete estados, não há definição, a saber: Amapá, Maranhão, Paraíba, Ceará, Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo: são 23 milhões de eleitores, ou 16,36% do total. Ainda que os dois partidos se unissem em todos os estados em que hoje há indefinição, não se chegaria nem à metade do eleitorado daqueles em que estarão separados: 95,9 milhões contra 44,7 milhões.

O problema para Dilma, evidentemente, não está no risco de rompimento formal do PMDB com o PT, mas na possibilidade de o partido passar a flertar com o tucano Aécio Neves em vários estados.

Por Reinaldo Azevedo

 

 

Presidente do PT-RJ reage a Cunha, do PMDB, e o chama de “líder do bocão”. Cresce o número de peemedebistas inclinados a um novo amor

O bate-boca entre petistas e peemedebistas continua. Já está quase na hora de chegar a turma do “deixa disso”. Pelo PMDB, falará então o vice-presidente, Michel Temer, ou Valdir Raupp, presidente da legenda. Pelo governo, Aloizio Mercadante, novo chefe da Casa Civil, ou Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, que ainda existe, embora poucos acreditem nisso.

Nesta quarta, foi a vez de Washington Quaquá, presidente do PT do Rio, sair atirando contra o deputado federal fluminense Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara. Afirmou, segundo informa a Folha: “Tenho o maior respeito pela história do PMDB, que tem importância na estabilidade política do Brasil. Mas não vamos ser chantageados por um cidadão bocudo como Eduardo Cunha. Já ouvi declarações do Raupp, do Michel Temer dizendo que a aliança tem a maioria da convenção. Nem o PMDB, que tem uma história no Brasil, nem o PT podem virar reféns de gente como Eduardo Cunha”. Referindo-se ao “blocão” formado pelo peemedebista, o petista o chamou de líder do “bocão”. E acrescentou: “Eles estavam acostumados com o PT do Rio, que ficava orbitando em torno dos cargos do governo. Não se acostumaram com o novo PT do Rio, que, de fato, tem ojeriza a esse tipo de gente, a banda podre do PMDB”.

A convenção a que se refere Quaquá é a do PMDB, que vai decidir se o partido vai apoiar a candidatura de Dilma à reeleição — o que é certo — ou escolher um outro nome. No Twitter, Cunha chegou a defender o rompimento da aliança e, nos bastidores, ameaça sugerir a antecipação da convenção do partido para encaminhar essa proposta. O petista tem razão numa coisa ao menos: o rompimento não vai acontecer nem com “reza braba”, como se diz lá em Dois Córregos, mas o PMDB que vai para as eleições neste 2014 reúne insatisfeitos em penca.

É claro que o PT não tem ojeriza a nada que diga respeito ao poder desde que possa fazer as suas vontades e que isso seja útil ao partido — ou não dividiria o governo do Maranhão com a família Sarney. Isso é bobagem. Se o partido se conformou em ser satélite de Sérgio Cabral por longos sete anos é porque não tinha, até então, uma candidatura viável no estado. Agora julga ter: a de Lindbergh Farias. Como é hábito no petismo, se um adversário é útil à sua causa, passa a ser tratado como aliado; se um liado é incômodo, passa a ser tratado como inimigo.

Reitero o que escrevi aqui ontem: não haverá o rompimento do PT com o PMDB, mas as escaramuças vão se acumulando. Um fator a mais de preocupação para Dilma Rousseff, até porque o presidenciável Aécio Neves (PSDB) tem, vamos dizer assim, várias fontes de interlocução no partido. Não se esqueçam de que, em 2008, houve um flerte explícito entre Aécio e o partido. Numa homenagem a Tancredo Neves no Congresso, naquele ano, o então presidente do Senado, Garibaldi Alves, que hoje é ministro da Previdência, afirmou, dirigindo-se ao agora senador tucano: “Espero que, nas próximas visitas, o senhor não seja mais um convidado especial tão ilustre, mas seja nosso companheiro”. Ao que emendou o deputado Henrique Eduardo Alves, hoje presidente da Câmara: “Posso dizer que o namoro começou, agora se vai dar em casamento, só o tempo dirá”.

Não acredito, insisto, no rompimento da aliança entre o PMDB e o PT, mas é certo que cresce enormemente o contingente de peemedebistas dispostos a experimentar um novo amor.

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (VEJA)

CONHEÇA OS PRODUTOS QUE TEMOS PARA VOCÊ