Preço do boi gordo subiu 22% em um ano . No campo, cotação da arroba chega a R$ 140 no Paraná

Jonathan Campos / Gazeta do Povo

A alta deste ano reflete a redução no rebanho nacional, indicam os especialistas. O maior entrave está no abate de matrizes (vacas), que servem de base para a criação de novos animais. “Desde 2006 mais de 250 mil vacas foram abatidas em todo o país. A consequência disso já era prevista e está aparecendo agora”, indica o zootecnista Paulo Rossi, coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Aliado a isso, fatores como o aumento nas exportações (que cresceram 4% em volume) e o clima desfavorável as pastagens do Sudeste do Brasil agravaram a escassez, destaca.

O pico do fim do ano também é explicado por fatores sazonais, aponta Rossi. “No fim de ano em geral os preços das carnes sobem. Isso aconteceu agora, mas em um momento em que o boi já estava em alta”, analisa. O fato é confirmado na análise do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira (19). Cortes como a costela e o filé mignon subiram entre 4,2% e 7,5% em dezembro, na maior valorização mensal desde janeiro.

Tendência

Para os próximos meses uma acomodação nos preços não está descartada pelos especialistas, mas retração ainda deve demorar. “O ciclo da pecuária é mais longo, então até reestruturar a oferta fica difícil [o preço cair]. O próprio custo para reposição está mais alto”, detalha Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP.

A perspectiva de aumento nas exportações da proteína também deve manter a oferta no limite. A Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC) estima que é possível registrar novo recorde nos embarques em 2015, chegando a 1,7 milhão de toneladas negociadas. O aumento é esperado graças ao fim do embargo imposto por países como China, Irã e Egito, além da possibilidade de reabertura dos mercados da Arábia Saudita e Japão. “O mercado externo vai influenciar ainda mais os preços internos. A própria valorização do dólar frente ao real é um estímulo a mais para as exportações”, salienta Pereira.

Alta estimula retomada de pastagens

Com cotações em alta quase ininterrupta ao longo do ano, a pecuária passa a ser percebida como atividade altamente lucrativa pela própria agricultura, embora ainda não esteja em competição direta com a soja. As cotações da oleaginosa registram queda de cerca de 20% no ano, fato que, aliado a alta da carne, volta a transformar o gado em um investimento competitivo. “O preço da soja diminuiu o fluxo de migração de área, mas ainda não neutralizou esse movimento”, indica Aedson Pereira, da Informa Economics.

Mas já existem casos de retomada. O agropecuarista Marcelo Vankevicius, de Rondonópolis (MT) manteve a soja em 3,6 mil hectares, mas destinou 300 hectares que costumava dedicar ao milho à criação de bovinos. No estado que detém o maior plantel do país – 28 milhões de cabeças, ou 13% do rebanho nacional conforme o IBGE (2013) –, decidiu ampliar a atividade para rebater oscilações na agricultura. A integração entre lavoura e pecuária é um caminho seguro para ampliar a produção de carne sem recuar no cultivo de soja, sustenta Vankevicius. “Estamos investindo em uma pecuária mais profissional, com cria, recria e engorda, que hoje já responde a 50% da renda anual”, relata. Uma ampliação da criação de bovinos passa a depender apenas do mercado.

O retorno dos investimentos nos pastos, contudo, ainda é projetado para o longo prazo, sustenta Paulo Rossi, do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Está se investindo em tecnologia para ampliar o rendimento por área, mas o resultado ainda vai demorar a aparecer”, diz.

Fonte Gazeta do Povo

 

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