As ações da Petrobras abriram em queda de mais de 9% na manhã desta segunda-feira, após o anúncio do reajuste do preço da gasolina e do diesel anunciado na noite de sexta-feira. A ação ordinária da estatal, com direito a voto, caía 9,06% às 10h45 (horário de Brasília), a 16,66 reais, e a preferencial, sem direito a voto, recuava 6,35%, cotada a 17,90 reais. O Ibovespa operava em queda de 1,62%, a 51.630 pontos. A queda representa uma perda de valor de mercado de cerca de 20 bilhões de reais pouco mais de uma hora.
A queda ocorre porque o mercado aguardava reajustes de 6% a 10% para o preço da gasolina, além da divulgação da tão aguardada nova fórmula de reajuste automático, que tem como objetivo dar alguma previsibilidade aos gastos da estatal com a oscilação do preço do petróleo. Como o reajuste foi de apenas 4% para a gasolina e 8% para o diesel, e nenhuma fórmula foi divulgada pelo Conselho de Administração da companhia, a reação do mercado à decisão da última sexta deve pautar o movimento da BM&FBovespa nesta segunda.
O desempenho das ações evidencia a decepção do mercado sobretudo com a decisão do Conselho da estatal, mais precisamente da própria presidente Dilma Rousseff, de não autorizar a divulgação de detalhes sobre a nova metodologia de reajustes de combustíveis. Segundo analistas, a falta de clareza sobre os critérios mantém incertezas para o mercado, num momento em que a empresa absorve forte defasagem dos preços domésticos na comparação com os internacionais.
Na noite de sexta-feira, a estatal anunciou o reajuste de preços nas refinarias de 4% na gasolina e de 8% para o diesel, já como consequência de uma nova política de preços. O impacto dessa alta nas bombas não deve passar de 2% para a gasolina e 4% para o diesel. No entanto, a empresa disse que “por razões comerciais, os parâmetros da metodologia de precificação serão estritamente internos à companhia”. A declaração priva o mercado de informações essenciais sobre o que esperar da companhia para os próximos trimestres.
Transparência – Para analistas do Itaú BBA, a falta de transparência preocupa. “Ninguém sabe exatamente quais são os indicadores ou quais são os gatilhos ou períodos para as revisões, deixando espaço para potenciais manobras nos preços”. Nós nos questionamos o que realmente mudou”, disseram os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, em nota a clientes no fim de semana.
O Credit Suisse rebaixou, no domingo, a recomendação para as ações da empresa para “underperform” (abaixo da média do mercado). O preço alvo das ADRs (ações da estatal negociadas em Nova York) está estimado pelo banco em 14 dólares.
“Aumentos tímidos nos preços e uma metodologia de precificação opaca deterioram a percepção sobre a governança corporativa, enfraquecem a posição de uma equipe de gestão forte e técnica, têm um significativo impacto nos lucros e na avaliação e deixam o balanço financeiro extremamente frágil em meio a um 2014 cheio de incertezas”, disseram os analistas Vinicius Canheu e Andre Sobreira, do Credit Suisse, em relatório a clientes.
O cobertor é curto. O governo do PT usou a Petrobras para fins políticos desde o começo de sua gestão. De olho na inflação já em patamar muito elevado, o governo segurou o preço do combustível em nível bem abaixo do de mercado.
Como a estatal lida com uma commodity internacional, e o Brasil ainda precisa importar derivados de petróleo, esse preço artificialmente baixo penaliza diretamente os acionistas da Petrobras. Para piorar a situação, a empresa possui um gigantesco plano de investimentos.
O resultado tem sido a sistemática destruição de valor da Petrobras. Na semana passada, as ações chegaram a esboçar leve recuperação, na expectativa de que o governo finalmente permitiria um aumento razoável no preço da gasolina e do diesel. A decisão saiu na sexta-feira, após o fechamento do mercado.
Só que o aumento permitido foi tímido demais. Não elimina a grande defasagem de preços. A gasolina subiu apenas 4%, muito abaixo do que esperava o mercado. O diesel subiu 8%. A reação dos investidores? As ações da Petrobras despencam quase 10% agora, enquanto escrevo esse artigo!
Fonte: Bloomberg
Isso representa cerca de R$ 20 bilhões em valor de mercado, evaporados em um único dia! Ou o governo deixa o preço flutuar livremente ao sabor do mercado, ainda mais quando se trata de um produto internacional como o petróleo; ou ele transfere renda dos acionistas da Petrobras e dos pagadores de impostos para os usuários de gasolina e diesel.
Em outras palavras, o governo tem optado por subsidiar os poluidores à custa dos detentores de ações da Petrobras. A continuar nesse ritmo, em breve a destruição da Petrobras será irreversível durante a era petista. Mas lembrem-se: o petróleo é nosso!
Déficit recorde
O déficit da conta-petróleo, ou seja, a relação entre a importação e exportação de petróleo e derivados, atingiu um recorde histórico no Brasil: 12,7 bilhões de dólares entre janeiro e outubro. É nada menos do que o triplo do recorde anterior, registrado em 2008.
Por Lauro Jardim
O histórico déficit da conta-petróleo este ano – até agora, quase 13 bilhões de dólares deve ser creditado muito mais ao óleo diesel do que a gasolina. Aos números: do total de dólares gastos, 42% foi com a importação de diesel. A gasolina contribuiu apenas com 12%.
Na sexta-feira, a Petrobras autorizou o reajuste de 8% do preço do diesel e de 4% da gasolina. Pouco para que o caixa da Petrobras pare de sangrar.
Por Lauro Jardim